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domingo, 23 de dezembro de 2012


SILÊNCIO
APESAR DE PENSAMENTOS
Swami Dayananda Saraswati

PREPARAÇÃO DA MENTE

Para criar uma condição mental que lhe permita ver a Verdade sobre você mesmo, é necessário que você remova todas as suas noções falsas. Com amor, você deve criticar várias opiniões e preconceitos. Não há outra maneira de se obter clareza que é a melhor coisa que existe. Tudo o que nega a visão clara da Verdade precisa ser eliminado juntamente com as noções limitantes e preconceituosas sobre você mesmo. Você se condena, “eu sou inútil, eu sou sem valor”, e é esta autocondenação que se torna um obstáculo para você conhecer o que você é.

Quando um guru diz que você é Sat e Cit e Ananda, que você é pleno e o centro da criação, que não há qualquer coisa além de você, isto é uma coisa linda que você vê. Não apenas linda, mais do que isto. “Esta Verdade profunda sou eu, não me falta qualquer coisa. Sou tudo o que procuro”. Isto é uma descoberta atordoante. Quem pensaria que poderia ser tudo aquilo? “Como poderia eu, algum dia, imaginar que o que estou procurando na vida é eu mesmo? Pelo mesmo fato de que eu o estou procurando, eu não posso imaginar ser eu mesmo.”

A Verdade é escutada mas não é assimilada. Para aqueles que parecem seguir o que o guru diz, enquanto o guru está falando, tudo parece estar claro. Você pensa: “Isto é verdade. Isto é verdade.” Então o guru se vai e aquele ananda que você sentiu e tudo o que ele disse, tudo aquilo também se vai. É por isso que o guru é chamado “........ananda”. Quando ele vem, ananda vem, quando ele se vai, ananda se vai.

Portanto, você começa a duvidar do que você entendeu. “Será que o Swami me hipnotizou? Acho que ele me fez acreditar que sou maravilhoso. Se eu vi que sou maravilhoso, por que não sinto agora que sou maravilhoso?” Esta é a velha confusão entre conhecimento e experiência.

Se hipnotismo pudesse funcionar, eu não precisaria ensinar assim. Eu apenas precisaria lhe dizer desde o primeiro dia: “Você é todo felicidade, você é todo alegria, você é todo alegria, você é todo alegria...” Isto se chama hipnotismo. Não funciona.

Todo o ensinamento é um desdobrar. Do mesmo modo que o artista lhe faz ver beleza em algo que você geralmente considera um lugar comum, da mesma forma o professor lhe faz ver a você mesmo. Ele não lhe narra a sua própria experiência. Ele usa a sua experiência como a base para o ensinamento e o faz ver a verdade daquela experiência. Isto traz assimilação em termos de conhecer a experiência de você mesmo. Portanto, não é hipnotismo.

Então, se é conhecimento, por que ele parece não permanecer e ser-me útil? Ele não me é útil porque a mente é ainda a velha mente com todos os seus gostos e aversões que ela juntou ao longo de muitos anos e que não vão embora de um momento para o outro. Antes éramos agitados. Após escutar o ensinamento, nós de novo sofremos com momentos de tristeza, de frustração, de sofrimento, de raiva - o que nós não queremos que aconteça continua acontecendo. Assim, a mente continua dizendo: “Eu desejo me ver como um ser pleno todo o tempo!” Bem, naturalmente, eu sou sempre um ser pleno mas me esqueço disso. No dia-a-dia, este conhecimento não parece ser-me útil e, por isso, parece separado da minha vida. O que posso fazer sobre isto?

O SER SILENCIOSO

Preciso vir a saber que sou a Verdade de cada pensamento. Mesmo que se trate de um pensamento agitado ou um pensamento prazeiroso, eu sou a Verdade do pensamento. Um pensamento não tem existência sem mim. Ele existe apenas como uma reflexão do meu próprio ser auto-efulgente. Ele é algo que brilha depois de mim, como a lua brilha depois do sol e, portanto, um pensamento não pode me perturbar. Ele depende de mim. Se, por outro lado, eu sou o pensamento, então, seja qual for a condição da mente, ela será a minha própria condição. Se a mente é inquieta, eu sou inquieto.

A mente passa por modificações. É esperado que a mente passe por modificações. Eu deveria

ver a mim mesmo, apesar dos pensamentos oscilantes, como uma pessoa que é toda silêncio. Assim como o ouro, apesar de ser uma corrente, é todo ouro. Ele não precisa se tornar um anel para se considerar ouro. Seja ele uma corrente, um anel ou uma pulseira, ele é ouro puro todo o tempo. Uma vez tendo visto que o pensamento (ou a corrente) é mithya, aparente, o aparente não poderá causar um problema. Portanto, eu posso e devo ver a mim mesmo não na ausência de pensamentos, mas apesar deles. Isto se chama meditação.

O que é aquele eu imutável que é para ser visto apesar dos pensamentos? Aquele eu é silêncio. Aquele eu é felicidade. Aquele eu é plenitude. Aquele eu é liberdade. Não lhe falta algo. Ele é sempre livre, o livre, o Ser silencioso.

Agora, o silêncio que é o Ser não é algo diferente de eu mesmo. Poderia eu, em algum momento, ganhar silêncio? Não. Poderia eu, em algum momento, recuperar silêncio? Não, porque eu sou silêncio, eu não preciso fazer qualquer coisa para obter silêncio. Nem eu posso recuperar silêncio porque ele não é uma coisa que venha e se vá.

Agitação vem e se vai. Todos aqueles pensamentos que parecem destruir o silêncio - eles vêm e vão. Mas silêncio é algo que permanece sempre, antes da agitação, durante a agitação e após a agitação. Quando a agitação se vai, eu sou silêncio.

Porque eu estou geralmente agitado, parece que o silêncio vem e vai. Na Inglaterra, onde o céu é muito encoberto, parece que o sol vem e vai. Na verdade, o sol não vem e vai. São as nuvens que vêm e vão. O sol sempre permanece. Do mesmo modo, aqui as nuvens em minha mente se retiram e eu vejo a mim mesmo como silêncio. Elas vêm de novo e parece que eu me perco. Isto é tudo o que acontece. Silêncio nunca está longe de mim.

Para aprender qualquer coisa, eu preciso ficar em silêncio, de outra maneira, o aprendizado não ocorre. Eu obtive algum conhecimento porque eu fiquei em silêncio algumas vezes. Mas se eu tentar aprender alguma coisa quando eu tenho muitos pensamentos na minha mente, nada acontecerá. Mesmo que seja uma coluna de jornal não fará sentido para mim porque a minha mente está ocupada. Quando a mente estiver preocupada, eu não poderei aprender algo novo.

PENSAMENTOS OSCILANTES

Eu sei que silêncio não é algo desconhecido para mim. Ele apenas parece vir e ir-se porque parece que os pensamentos criam agitação. Eu tomo os pensamentos como sendo eu mesmo e me torno agitado devido ao pensar mecânico. A profunda acumulação de gostos e aversões, de idéias não digeridas e não assimiladas causam tantos conflitos e frustrações que a mente se torna mecânica. Ela reage em vez de agir. Quando um pensamento surge, e este pensamento me conduz a outro pensamento e este pensamento de novo me leva a outro pensamento, eu experimento um momento mágico de agitação.

Em tal pensar mecânico e irrefletido, eu tomo o próprio pensamento como sendo eu mesmo. Eu esqueço de mim. Então, quando o pensamento se vai, eu, de repente, retorno a mim mesmo e percebo um momento de silêncio. Portanto, o silêncio parece vir e ir-se. Mas, se eu analisá-lo, poderei verificar que o problema não se trata de descobrir o silêncio, mas de destruir o pensar mecânico.

Um pensamento vem e vai. Antes dele vir, havia silêncio e, depois de ele se ir, há silêncio. De novo, depois de outro pensamento, há silêncio. Entre pensamentos, há silêncio. Silêncio não é algo pelo qual eu deva lutar.

Pensamentos vem e vão. O silêncio é sempre. E ainda assim não o percebo. O que isto significa? Não o percebo porque caminho sobre pensamentos. Eu sou levado pelos pensamentos.

Eu não percebo o silêncio quando há um acúmulo de pensamentos criando um momento mágico. Eu caminho sobre os pensamentos. Não atinjo o chão. Minha mente, por alguma associação, pula de um pensamento para o outro. A associação pode ser um simples som, mesmo uma rima. O significado de uma palavra também pode trazer à mente muitas outras palavras. Do mesmo modo que macacos saltam e agarram o próximo galho, eu também agarro o primeiro pensamento e largo o último. É por isso que a mente é chamada de macaco. Eu preciso aprender a quebrar a magia desta viagem mecânica sobre pensamentos e descobrir o silêncio entre dois pensamentos. Isto deveria se tornar um costume para mim.

Eu deveria me pro­porcionar uma situação na qual pudesse desenvolver a capacidade de estar comigo mesmo a despeito do pensar. Esta situação especial é chamada meditação.

O que é meditação? Eu estou meditando quando removo todos os pensamentos? Suponha que eu tente remover todos os pensamentos. Então, o que acontece quando um pensamento surge? O silêncio se foi. Eu terei problemas, porque a chegada de um pensamento se torna um problema. Posso eu ter uma mente que nunca pensará? Eu pediria a Deus: “Oh, Deus, dá-me uma mente que jamais pense.” Por que iria Ele então me dar uma mente? A mente é para pensar. Pensar não cria problemas. É uma bênção ter ganho uma mente. Fazer pensamento virar pesadelo é a coisa mais tola que alguém pode fazer.

Se você pensa que meditação é a ausência de pensamentos ou ter visões engraçadas, eu diria que isto é “maditation”1 . Ter visões engraçadas não é meditação, remover pensamentos não é meditação. Se eu procuro remover todos os pensamentos, eu apenas me torno frustrado e me condeno como inútil porque não consigo fazer isto. Ao tentar ser “espiritual”, eu me torno tão frustrado comigo mesmo que me torno uma pessoa com a qual é impossível se estar. Eu não consigo suportar alguém conversando. Eu não consigo suportar qualquer coisa porque tudo cria pensamentos em mim.

DESENVOLVENDO A CAPACIDADE

Qualquer processo de pensamentos é uma corrente de muitos e variados pensamentos. Nesta corrente, sempre há uma probabilidade de se ser levado pelos pensamentos, uma forma superficial, reativa e mecânica de pensar. Mas agora eu vou fazer algo com a minha mente enquanto tiver muitos pensamentos, ao mesmo tempo, descobrirei o silêncio entre os pensamentos.

Como é que eu faço isto? Em vez de ter muitos e variados pensamentos, eu crio pensamentos que são muitos em número mas que são todos idênticos. Se o segundo pensamento for igual ao primeiro e o terceiro for igual ao segundo, não se cria uma corrente de pensamentos cativante. Não há associação, apenas pensamento - ponto final. Pensamento - ponto final. Pensamento - ponto final. Pensamento - ponto final. Após o primeiro pensamento, o que existe? Silêncio. Após o segundo pensamento? Silêncio. Terceiro pensamento? Silêncio. Quarto pensamento? Silêncio. O que é que estou fazendo agora? Aprendendo. Aprendendo o quê? - A capacidade. Do quê? - De ser silêncio. Entre o quê? - Pensamentos. É uma capacidade, assim como aprender a andar de bicicleta ou a nadar.

Aquele simples pensamento pode ser repetido como uma palavra. O que poderia ser aquela palavra? Ela deveria ser significativa ou sem significado? Se eu tomo uma palavra sem significado e começo a repeti-la, a mente me diz que eu estou fazendo algo sem sentido.

Portanto, eu deveria escolher uma palavra com um significado, algo significando o Todo, o coração da criação. Algo que não seja uma das coisas da criação. E por ser uma palavra que é cheia de significado para mim, todo o ensinamento pode ser visto naquela palavra simples. Qualquer palavra que você reconheça como sendo o nome do Senhor, uma palavra que, enquanto você a repetir, faça você apreciar a si mesmo, é ótima. Deveria ser uma palavra cheia de significado na qual você esteja incluído.

A palavra pode ser Om, uma palavra que inclui tudo, tanto em seu som como pelo seu significado. Ele tem os sons “A”, “U”, “M”. “A” refere-se ao o mundo físico. “U” refere-se ao mundo dos pensamentos. “M” refere-se ao não-manifesto. Portanto, toda criação e sua base, tudo está contido na sílaba Om.

A palavra que você escolhe pode ser outra. Ela poderia ser Jesus, ou você pode dizer “Om namah sivaya.” Namah significa “eu saúdo”. Siva significa “todo auspicioso”, aquilo que é todo ananda. Portanto, “Ao Senhor, ofereço minhas saudações.” Tais palavras formam uma prece. Se eu precisar, estas palavras são muito úteis. Desde que as palavras tenham um significado, elas podem ser quaisquer.

Om. Om. Om. Há alguma conexão entre elas? - Não, porque cada uma é completa. O pensamento é o mesmo, repetido numerosas vezes. E a repetição precisa existir. Por que? Por que não dizer apenas um único Om? Porque para descobrir o silêncio entre os pensamentos eu preciso, necessariamente, ter muitos pensamentos mas não pensamentos diferentes.

Ter diferentes pensamentos significa que os pensamentos formam uma corrente e eu não vou descobrir o silêncio numa cadeia de pensamentos. Portanto, eu me abasteço com um único pensamento muitas vezes. Eu não crio uma corrente mas, ao mesmo tempo, eu vejo muitos pensamentos. O primeiro não é diferente do segundo e o segundo não é diferente do terceiro. Assim eu crio para mim uma situação em que descubro o silêncio entre os pensamentos. Eu não posso deixar de percebê-lo.

Quando canto Om, o que vem depois? Silêncio. Om. Silêncio. Om. Silêncio. E eu faço tudo isto para ver que sou silêncio apesar de ter dois pensamentos sucessivos. Esta nova ocupação, chamada meditação, me ajuda a descobrir com facilidade que eu sou sempre o mesmo. A despeito de todas as ações realizadas, percepções sentidas e pensamentos mantidos, permaneço o mesmo ser livre que é silêncio e não realiza qualquer ação.

Traduzido da transcrição e edição de Lynn Del Cotto e Dorothy Brooks, a partir de uma série de palestras sobre meditação, oferecida por Swami Dayananda Saraswati, em São Francisco, EEUU, em novembro de 1978.

Tradução: Carlos Amaral




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